A Pintura em
Narrativas Queer
Um retrato é sempre elaborado sobre o signo da memória. É expressão de afeto, reforço de uma identidade social e exercício de poder. Retratar é fixar aparências, e afirmar reconhecimentos.
Todo retrato é um atestado que diz: "Eis alguém de quem vale a pena lembrar".
Não seria possível refletir sobre esse gênero tão importante para a História da Arte sem considerar as profundas relações de poder e afeto que envolvem o ato de representar alguém. O retrato talvez seja uma das práticas que melhor condensam a relação íntima entre ver e ser visto, a negociação entre eu-e-o-outro, nós-e-eles.
Seu trabalho atual consiste em pinturas que exploram noções de beleza, alteridade, comunidade e identidade queer.
Em suas obras, Thix retrata pessoas gênero-dissidentes e manipula conceitos como objetificação e representação. Espelhando elementos da História da Arte, esses trabalhos confrontam seus sujeitos à uma linha de tempo que vai reivindicar a presença de corpos até então interditados em espaços de arte, com o propósito de refletir sobre as identidades fixas definidas em termos binários ao mesmo tempo em que questionam os processos históricos de representação, corporalidade e pertencimento, atuando como uma contribuição à crítica da normatividade do corpo e do gênero.
Tão complexos quanto provocativos, os retratos de Thix convidam a um encontro entre sujeito e espectador, o pessoal e o político, e significam uma recalibragem a respeito de quem vê e quem é visto, comunicando outras formas de se relacionar, amar, de produzir memória, e novos mundos.
Queer
Uma utopia do lar
Esse corpo de trabalho quer invocar os confortos e complicações da vida doméstica queer e trans.
A partir de encontros com indivíduos que abrem suas casas, e suas vidas para serem registradas em seus espaços domésticos, se estabelece um vínculo profundo de conexão que visa sublinhar visceralmente as dissonâncias vividas pela experiência queer, cujo desejo de viver e prosperar enfrenta rotineiramente restrições sociais e sanções juridicas, e para quem a idealização da família nuclear pela sociedade é dolorosamente carregada de traumas.
O que aqui se nomeia como diáspora queer, serve como guia para investigar como deslocamentos em busca de segurança, comunidade, e aceitação, produzem experiências na compreensão a respeito do significado de lar para pessoas queer e trans.
Onde podemos nos sentir em casa – na nossa pele, no abraço do outro, entre as nossas famílias escolhidas? Onde nossos corpos queer e trans estão segures, alojades e livres para sermos nós mesmos?
A troca de experiências intergeracional com pessoas de contexto sociopolíticos diferentes, se desdobra para levantar discussões sobre experiências queer e trans sobre lar. Pintar esses retratos, permite ampliar o debate e explorar a intimidade, a autobiografia, a experiência da infância, territórios, e as relações de proximidade e identidade cultural - criar estruturas para dar sentido aos seus domínios domésticos e abrir espaço para a utopia da casa.